quarta-feira, 16 de dezembro de 2020

Pena média

Facto 1 - há sempre pessoas com menos possibilidades e, felizmente não conhecendo nenhum caso pessoalmente, de certeza haverão muitas mais agora com a pandemia, que veio aumentar a situação do desemprego, entre outras coisas.

Facto 2 - eu faço parte, há alguns anos, de um grupo de facebook onde oferecemos coisas que já não queremos. Recentemente também me juntei a um site que é o Dar e Reutilizar, onde o princípio é o mesmo, as pessoas anunciam coisas que já não querem e que podem dar a outras pessoas.

Queria ainda sublinhar que tudo o que tenho para dar está em muito bom estado. Quer sejam objectos ou roupas ou calçado, está tudo perfeitamente aceitável. Simplesmente são coisas que eu já não uso e não vale a pena o trabalho de pôr à venda no olx (roupa, calçado, objectos para animais, etc.). Normalmente ponho coisas mais caras no olx (tipo aparelhos electrónicos, bicicleta, itens de beleza novos, etc.) e, se a peça estiver mais gasta, levo para a AMI, que aceitam tudo e depois fazem a triagem.

Conclusão - eu não sei a situação das pessoas que me contactam para ficarem com as minhas coisas, por isso não posso afirmar que estão realmente a precisar de coisas. Se calhar até só querem por querer. Mas a quantidade de pessoas que diz que quer, que me pede para guardar as coisas para virem buscar e depois não aparece/deixa de estar interessada é imensa. Muitos ficam aborrecidos por eu não poder ir a casa deles levar e terem de vir buscar a minha casa (quando até está explícito no grupo que é para virem buscar e não há entregas para ninguém, quem comenta a pedir já sabe as regras). Mas depois de anos nisto de dar coisas, a minha pena das pessoas é só média. Quando vimos aquelas pessoas no facebook a pedir por todos os santinhos, que precisam muito e tal, depois na realidade, em muitos casos (não será em todos, óbvio),  não é bem assim, pela minha experiência. 

2 comentários:

Anónimo disse...

Um dia destes, num desses grupos, uma pessoa queixava-se de alguém que tinha ido buscar um saco de roupa e que o tinha deixado depois numa paragem de autocarro. Tinha deixado DE PROPÓSITO, não se tinha esquecido (quem doou viu a cena porque foi à porta de casa).
Não sei bem o que pensar sobre isto. São muitas as histórias de pessoas que trabalham em instituições e ficam com as coisas, de pessoas que recebem sem precisar necessariamente (por exemplo, lembro-me de alguém perguntar à minha mãe se queria algumas coisas e vai se a ver eram produtos alimentares que tinham sido dados por uma instituição). Às vezes acho que o melhor seria de alguma forma fazer um levantamento, ao nível local, das famílias carenciadas e das suas necessidades e doar diretamente, não sei.
M.

Maat disse...

este comentário levanta tantas questoes que dava para um livro quase :)

1. essa situação de terem deixado a roupa numa paragem de autocarro... bem, nem sei o que dizer também. é triste. porque se dariam ao trabalho de ir buscar roupa para logo a abandonar? enfim.
é por isso que, entre essas duas plataformas que falei, tenho preferido usar a dar e reutilizar, pelo simples facto de que é preciso pagar uma pequena taxa para poder pedir os itens. julgo que 2 euros dá para utilizar durante 1 ou 2 meses. acho que de certa forma desencoraja quem quer pedir só por pedir, porque tem de pagar, ainda que seja quase irrisório.

2. essas histórias das instituições acho que toda a gente sabe. e é por isso que já não dou nada ao banco alimentar, poe exemplo. é pena, porque se calhar quem precisa não tem ajuda da minha parte. mas custa-me dar para depois saber que quem manda ou trabalha lá leva para casa as melhores coisas.

3. quando dou outro tipo de produtos a instituições, como roupa ou calçado, sei perfeitamente que pode não ir parar necessariamente a quem precisa, mas se eu souber que alguém reutilizou, mesmo sem passar necessidades, já é suficiente para mim. e acho também que esse tipo de produtos devem ser menos apetecíveis do que trazer para casa bacalhau ou arroz grátis.

4. o melhor seria mesmo dar a quem se conhece e se sabe que precisa ou a alguém de confiança que lida directamente com as pessoas careciadas, mas isso nem sempre é possível.

5. como extra, eu antes dava muitos donativos para animais. depois também me comecei a aperceber que não era assim tão linear. também há pessoas que se querem aproveitar, na causa animal como em tudo na vida. então deixei de dar. agora fico eu com o dinheiro e se encontrar algum animal na rua que precise de ajuda, ajudo eu. não são assim tantos, mas por exemplo o último (Bruno, que acabou por ficar comigo) estava todo lixado, teve de ficar no vet internado uns dias e gastei uns 200 euros. já apanhei outros e sempre lhes dei os cuidados que precisaram. alguns apareceram os donos, outros tiveram de ser eutanasiados por estarem muito mal, etc. guardo os meus donativos para essas situações. agora telefonar para um número para ajudar as vítimas de pedrogao, para depois o dinheiro ir parar aos amigos do
presidente da junta que querem reconstruir a sua casa de férias? não, obrigada.