quinta-feira, 12 de março de 2020

Reciclagem, ambiente e outros que tais

Deixem de me seguir, chamem-me nomes, enxovalhem-me em praça pública, mas já não tenho paciência para tantos produtos amigos do ambiente. A quantidade de garrafas reutilizáveis de plástico, vidro ou metal que já se produziram e que as pessoas compram e não usam dava para produzir milhões de garrafas de plástico de água normais.
Em todo o lado me aparecem anúncios de marmitas, de garrafas, de sacos de pano, de escovas de bambu, de pensos higiénicos reutilizáveis, de milhares outras coisas!
Eu faço o que posso pelo ambiente, e não é de agora, é de há muito tempo. Eu já não queria sacos de plástico nos supermercados muitos anos antes de começarem a serem pagos. Lembro-me perfeitamente da cara de espanto quando eu tirava o meu saco de pano da carteira para pôr as compras e dizia que não queria os sacos de plástico deles. Isto ao mesmo tempo que o cliente da caixa do lado pegava num molho de sacos novos 'para pôr o lixo'. Eu reciclo há anos, muitos anos, quando quase ninguém reciclava, e obriguei a minha mãe a ter caixotes para tudo em casa. Quando ainda nem sequer se vendiam caixotes de reciclagem.
Por isso, não me fodam agora que não vou usar discos de algodão recicláveis. Não vou andar a lavar um bocado de pano sempre que preciso de usar algodão. Eu nem sequer me maquilho, os poucos discos de algodão que uso é quando me magoo e desinfecto a ferida com Betadine ou nas três vezes por ano que uso rímel (sim, rímel, e não máscara de pestanas).
Tenho quatro ou cinco garrafas de plástico para água e já são demais, porque só uso duas, uma no trabalho e uma em casa. A verdade é que também só estas duas foram compradas, as restantes foram ofertas de publicidade.
Não vou comprar sacos de panos para levar uma sande (nas duas vezes por ano que preciso de levar sandes comigo). Primeiro, não quero andar com sacos de pano atrás, vou embrulhar num guardanapo e pôr num saco hermético do Ikea. Provavelmente até vou trazer o saco hermético de volta para casa para reutilizar, que não tenho coragem de deitar sacos bons ao lixo. (Para perceberem a minha obsessão, mesmo em viagem, quando compro coisas e tenho de tirar dos sacos e embalagens para caber na mala, dobro os sacos de plástico muito direitinhos e ponho naquele bolso de fora da mala. Sim, já trouxe sacos de plástico do US e do Canadá, por exemplo. Sou doente.) E vou reutilizar até estar velho e depois vou deitar fora. Não quero lavar sacos de plástico. E nem quero lavar sacos de pano. E sacos de pano também não quero comprar, porque é estúpido, devo ter guardado nas várias arcas da minha mãe os que eu usava quando era miúda. Se quiser usar, vou procurar esses e uso.
Não quero usar escovas de bambu. Eu uso escova eléctrica e não estou disposta a mudar. E mesmo que mudasse, as escovas de bambu parecem bem rascas, que nem têm as cerdas dentadas em zig-zag para limpar melhor.
Acho bem que se ajude o ambiente mas também era importante perceber o impacto destes substitutos que agora aparecem e que se calhar gastam tantos ou mais recursos do que o plástico. E se os produtos que anunciam como amigos do ambiente são mesmo amigos do ambiente. Apareceram muitas coisas em silicone para substituir o plástico, mas o silicone também não é biodegradável.
Um saco de plástico normal pode ser usado várias vezes, até ir parar à reciclagem, onde, se for bem tratado, poderá ser transformado em outra coisa. Um saco de pano é de pano, e seria preciso perceber como funciona a reciclagem de fibras de tecido, se é mesmo efectiva e se vale a pena. E depois é preciso lavar e gastar água e detergente. E o problema é que não se tem um, tem-se sete, dos quais só se usa um. Eu própria cheguei a cair nesta esparrela mas apercebi-me e deixei de comprar e agora vou usar os que tenho até estarem com buracos. A minha dúvida é se os sete sacos de pano que nós temos são efectivamente melhores do que usar e reutilizar um saco de plástico reciclável até ao fim da sua vida.
E simplesmente vou-me recusar a entrar em exageros. Há coisas que vou fazer. Não me importo de levar sacos finos para trazer cebolas. Aliás, eu a maior parte das vezes até junto tudo num único saco de plástico (duas cebolas, um dente de alho e três batatas - sim, compro tudo em pouco que gasto pouco e estraga-se) e depois a pessoa da caixa tem de tirar e pesar em separado. Por isso não me importaria de levar um saco fino e meter tudo lá dentro. Mas não vou usar pensos higiénicos recicláveis que depois tenho de meter num frasco de molho para tirar o sangue - segundo me disseram é assim, e a ser assim é nojento, não vou ficar com um frasco de sangue na banca da cozinha, já tenho lá o frasco dos medicamentos para reciclar, o frasco do óleo usado e o frasco das tampas de plástico, já chega de frascos de merdas.
Chega de produzirmos coisas que vamos comprar só para sermos bonzinhos e depois não vamos usar ou então vamos comprar três vezes mais do que o que precisamos e vamos estar a fazer na mesma mal ao ambiente. Não tenho mais paciência para isso. Não sei se tenho razão ou não, mas não tenho mais paciência.

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