sexta-feira, 12 de outubro de 2018

Não sirvas a quem serviu


Ora bem, chefes, um tema sensível para fechar a semana. Quem não tem um? Para facilidade, vou-me referir sempre a chefe no masculino, por ser um substantivo masculino (apesar de dizermos ‘a minha chefe’), mas que podem ser tanto um homem como uma mulher.
Portanto, quase toda a gente tem um chefe, mesmo os próprios chefes. Só não têm chefe os donos das empresas, em princípio. Um team leader, que é chefe, tem um manager acima, que por sua vez terá um director, etc. Ora a grande questão dos chefes é: será que há algum chefe bom? Não falo numa empresa. Vamos falar de Portugal (o mundo é demasiado grande e não conheço as realidades de outros países). Haverá algum chefe que se aproveite em Portugal? Eu gostava de responder que sim, mas posso dizer que, infelizmente, nunca conheci nenhum até hoje. Mas acredito que haja por aí em algum lado algum, bem escondido.
Ora, na minha experiência, o problema dos chefes (para além de mandarem em nós e nós não gostarmos disso, mas vamos tentar ignorar esta parte) é que lhes falta sempre qualquer coisa. Claro, todos somos humanos e temos falhas, mas eles são pagos para ‘gerir’ e julgava-se que deveriam ter competências para isso. O chato é que quase nunca têm as suficientes. Há aqueles que são muito bons tecnicamente, que sabem fazer tudo, mas que depois a lidar com pessoas são um desastre. Há os outros, os porreiraços, mas que não percebem nada do que andam a fazer. Há os autoritários/déspotas, mais típicos em empresas familiares (mas não só). Há os que não têm autoridade suficiente e que toda a gente abusa deles. Há chefes de todos tipos, mas nunca encontrei nenhum que eu visse como exemplo.
Já tive de tudo. O menos mal julgo que foi numa empresa familiar. Eu gostava dele, no fundo, comigo sempre foi impecável, mas era duro com os outros. Era um bocado do género déspota, mas as coisas rolavam e, fora um ou outro caso em que ele tratava mal as pessoas, julgo que as pessoas até gostavam dele. Foi o chefe que tive que era mais parecido com um líder. Sabia sempre o que fazer, arranjava soluções para tudo, e tinha tudo bem definido na mente dele, para onde ia e qual o caminho.
Também já tive o que sabe fazer tudo, tecnicamente bom, mas que em termos de competências sociais, comunicação e autonomia é um zero. Tive uma team leader que era boa a trabalhar mas que com pessoas era uma besta. Julgo que agora está num cargo que é perfeito para ela: sozinha, sem ninguém a reportar a ela, e a fazer o que faz bem, trabalhar. Apanhei duas vezes o porreiro, que quer ser amigo de toda a gente e não ferir susceptibilidades. Um não percebia nada do que se passava e sempre que intervinha era uma desgraça, o outro não conseguia tomar decisões, deixava as coisas fluírem sozinhas à sorte.
Noto que, no geral, a falha maior é lidar com pessoas. Os chefes não sabem lidar com pessoas, não sabem perceber as suas necessidades, não saber comunicar com as pessoas, não têm a sensibilidade necessária para liderar um grupo de pessoas. O que eu acho que aconteceu, em quase todos os casos que vi, são pessoas que eram boas no que faziam, que faziam bem o trabalho operacional, e que quando foi preciso promover alguém foram os escolhidos. Mas depois chegam a um cargo de liderança e espalham-se por completo. Não têm autonomia, não têm certezas, nota-se que estão a andar em telhados de vidro. Nem toda a gente devia ser promovida para um cargo de liderança. Há formações de liderança e management, etc., que podem ajudar a dar algumas dicas para melhorar a prestação, mas muitos julgo que nem com isso vão lá. Conheço vários exemplos de pessoas que foram promovidas a team leader e que são uma desgraça. Algumas sabem-no, outras não. Eu, por exemplo, consigo perceber que não tenho perfil para um cargo de liderança. Não ia ter jeito para a coisa, provavelmente as pessoas não iriam de gostar mim, eu não me iria sentir feliz num cargo desses, eu nem sequer gosto de falar com pessoas e isso iria notar-se. Há cargos igualmente bons que não implicam gerir pessoas. As pessoas deveriam pensar bem antes de aceitar uma responsabilidade destas. Antes ou depois, que também devem conseguir perceber se estão a fazer um bom trabalho ou não.
Ainda há pouco tempo respondi a um questionário da Hays sobre o mundo do trabalho e uma das perguntas era quais as características ideais para um chefe. E eu reflecti e percebi que nunca tive nenhum com as características que eu acho importantes.
Assim de repente, lembro-me de uma amiga que gosta do seu chefe. De resto, não tenho mais nenhum exemplo. Não digo que não exista, mas eu não conheço. O meu pai também gostava do chefe dele, mas isso eram outros tempos, por isso não vou contar. Não é por acaso que a maior causa (julgo que pelo menos cerca de 50%) de pedidos de demissão nas empresas são as chefias e a relação com elas.
Gostava de um dia ter um chefe que eu admirasse e de que eu gostasse mesmo. E que me motivasse, me recompensasse, me ajudasse, me percebesse. Será que vou ficar sempre entalada com chefes que não sabem falar com as pessoas, que não conseguem tomar decisões ou que não promovem o nosso crescimento?

2 comentários:

Cynthia disse...

Tenho dois team leaders e um especialista (é a pessoa com o cargo acima do deles) e são os três espectaculares. São porreiros, convivem com a malta na boa, ajudam, não têm a mania da superioridade, são capazes de trabalhar ao nosso lado, tomam as decisões que há que ser tomadas, porque também faz parte e não há como contornar isso e são compreensivos com os nossos problemas pessoais e/ou profissionais. Mas já passei por alguns intragáveis. Com estes tive sorte. Eu e a equipa que trabalha sob a supervisão deles. Acho que é como dizes, não é fácil assumir um cargo de liderança, implica a gestão de vários factores e nem toda a gente tem esse perfil. Eu, certamente, não seria pessoa para isso.

Maat disse...

tens uma sorte do caraças. espero que tenhas noção disso. acho que quase ninguém pode dizer isso. ainda por cima, TRÊS e são todos fixes. isso não existe.