quarta-feira, 14 de fevereiro de 2018

A solidariedade

Toda a gente sabe que os portugueses são um povo bastante dado à solidariedade. Basta ver que quando acontecem tragédias como os incêndios ou as cheias, rapidamente se angariam bens e donativos para as vítimas. E cada vez mais é normal vermos eventos ‘solidários’. Eu, por exemplo, que costumo ir a muitas corridas e trails, vejo também isso neste mundo, trails solidários e corridas solidárias. Alguns percebe-se claramente o seu objectivo, são para comprar uma cadeira de rodas nova para uma criança que precisa ou para ajudar uma instituição que lida com deficientes. Outros não se sabe muito bem. É solidário, mas com quem, com o quê? Só espero que não seja com a organização. Isto da solidariedade chama muita gente, por isso é sempre bom ter a palavra ‘solidário’ no nome, porque já se sabe que as pessoas vão querer participar e se calhar nem se vão importar de pagar mais. O que é importante é que, primeiro, seja mesmo verdade, naturalmente, e segundo, que seja bem claro qual é o objectivo solidário e quem ou o que vai ajudar o evento. Porque eu também gosto de ajudar, mas gosto de saber o que estou a ajudar. Isto é um pouco semelhante à situação ‘ecológico’. Toda a gente também quer ser amiga do ambiente ou, pelo menos, comprar produtos que sejam ‘ecológicos’, para ter a consciência menos pesada. Mas depois também deve haver muita fraude e aproveitamento. Lembro-me por exemplo de um detergente, da marca Continente, um lava-tudo ou um limpa-vidros que diz (dizia? Não sei se ainda está à venda) ‘ecológico’ e tem a embalagem verde, mais caro que os produtos iguais que não são ecológicos. Eu li todas as informações do rótulo e, para além desse ‘ecológico’ na frente da embalagem, não havia mais nenhuma informação sobre a suposta ecologia do produto. É ecológico porquê? Porque é feito de materiais reciclados? Porque usa matérias primas sustentáveis? Porque tem menos produtos nocivos para o ambiente? Porque não testa em animais? Não se sabe. Eu não os estou a acusar de fraude, mas estou a acusá-los de pouca informação. Se eu quiser, posso assumir que só puseram lá essa palavra, mudaram o rótulo para verde e foi a desculpa necessária para aumentarem o preço. Sem mais informação, eu posso assumir o que quiser. E isto é só um exemplo, deve haver centenas. Como aqueles produtos que supostamente são ‘biológicos’ mas depois as análises revelam químicos acima do limite permitido por lei. Não sei se existe alguma legislação para usar palavras como ecológico, biológico, solidário, mas se não há, devia, para haver mais transparência.

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